domingo, 7 de março de 2010

INCLUSÃO UM DESAFIO A SER SUPERADO.

Faz anos que ouço falar em inclusão, e também do preconceito.
Minha luta pela inclusão começou em 2005, quando meu filho Gustavo teve que ser matriculado no pré-escolar. O que pra muita gente é uma rotina, pra mim virou uma batalha conquistada aos poucos.
Meu filho foi matriculado, todos o receberam bem e o trataram com muito respeito e carinho.
Mas a escola em si, não estava e nem está preparada para receber crianças especiais.
Ele estava na sala de uma ótima professora, mas ela não tinha curso para trabalhar com essas crianças, e nem é por falta de interesse e sim, falta de oportunidade.
Como atender uma criança especial no meio de 25 outras crianças. Uma criança especial ocupa lugar de no mínimo 10 crianças.
É fácil para os governantes criarem leis, o difícil é praticá-las.
Antes de criar a Lei da Inclusão de crianças com necessidades especiais em escolas normais, deveria ter capacitado os profissionais da educação.
Ele sentiu que não tinha a atenção que merecia, e saia da sala sempre, ela o buscava, mas ele voltava.
Ele gostava de ficar na secretaria picando cartão de ponto...
Fazia isso até se enjoar, depois pedia as funcionárias que sempre tiveram muita calma e paciência para me ligar para buscá-lo.
E foi assim 2 semanas, até que nada fez ele ir pra escola.
Tentei de tudo, dar prêmio. Mas a família toda falava: “ele está muito novo, ao no que vem ele vai.”
Chegou o ano de 2006, e o governo de minas criou a Lei do ensino fundamental de nove anos.
Mais uma vez, matriculei-o. Fui atendida pela Diretora da época que me atendeu muito bem e foi apresentá-lo a possível professora.
Ela foi muito sincera “Eu não posso ficar com o Gustavo na minha sala, estou com 23 alunos, não tenho condições de atender as necessidades dele.”
Eu sabia que ela estava falando da falta de estrutura e de formação.
Então a Diretora pediu para ele vir à tarde, a professora era a mesma do ano anterior.
Eu entrava para sala de aula com ele e sentava ao seu lado. Tinha outro pai que fazia a mesma coisa.
Sentia-me incomodada, parecia que tirava a liberdade da professora. Mas essa situação só durou duas semanas. Ele falava que não aprendia nada, sua cabeça doía com o barulho de tanta criança.
Desisti mais uma vez.
Em 2007 após longas conversas com toda família e psicólogas, matriculei-o novamente.
Desta vez parecia que ia dar certo, ele ia pra sala de aula da professora que El adora até hoje, só que eu tinha que ficar sentada para ele me ver.
Ele não sentava, mesmo com esforço da professora que sempre foi muito carinhosa, ele não fazia nada.
Essa situação durou três semanas.
Eu havia pedido auxilio na Superintendência de Ensino e tinha sido avisada que aquele dia o pessoal responsável pela inclusão iria visitar a escola para ver como ele estava indo.
A supervisora me abordou e perguntou “O que você ta achando do Gustavo?”

Respondi: “esse ano ele está bem melhor, mas nem sentar na carteira ele senta. O pessoal da inclusão deve estar chegando e vai nos orientar melhor”.
Ela na tentativa de ajudar entrou na sala e disse “GUSTAVO, SE VOCÊ NÃO SE SENTAR EU VOU MANDAR SUA MÃE EMBORA.”
Pronto, foi o necessário para perder mais um ano de escola, ele começou a chorar e gritava: “VOCÊ NÃO MANDA AQUI, A ESCOLA É PÚBLICA, SE VOCÊ FIZER ISSO EU TE MATO.” Ela saiu muito triste e transtornada com aquela situação.
Fui encontrar com ele e a professora que estava super nervosa com a situação, ele dava vômitos de raiva.
Acalmei-o, ele falou “EU NUNCA MAIS VOLTO PRA ESCOLA.” Senti que estava falando o que estava sentindo.
Levei-o para conversar com a supervisora, ambos pediram desculpas. Mas ele continuou afirmando que não voltava mais pra escola e não voltou.
Em 2008, falei pra ele, “este ano você vai estudar, vai recuperar o tempo perdido”.
Ele concordou falou que queria aprender a ler.
Antes do ano letivo começar, o destino nos pregou uma peça. A válvula de drenagem de liquor encefalorraquidiano do seu cérebro parou de funcionar e ele teve que ser internado em Franca-SP.
ESTUDAR É PRECISO, MAS VIVER É NECESSÁRIO.
Começou um longo sofrimento, meu filho trocou a válvula, mas pegou infecção e a cirurgia se repetiu por 12 vezes.
Ele chegou a vir pra casa com Derivação Externa. Já sofremos muito, ele sofreu dores horríveis e eu sofri por não poder fazer nada a não ser rezar e acreditar em Deus acima de tudo.
Fez a última cirurgia em 20 de janeiro de 2009, teve alta no dia 27 de janeiro.
Em novembro de 2009, uma pessoa de alma generosa se ofereceu para ensinar o Gustavo a ler, eu e ele aceitamos. Ela vinha na minha casa de três a quatro vezes na semana. E o Gustavo foi aprendendo as primeiras palavrinhas com esse anjo que Deus me enviou chamado Lúcelia.
Mas ficou proibido de ficar no meio de muita gente por um ano.
Finalmente 2010, ele está bem, e freqüentando a escola.
O primeiro dia foi difícil, chegou em casa nervoso.
Está estudando na Escola Municipal Cônego Marinho e sua professora é a muito querida, ela o trata com imenso carinho e atenção, está sempre preocupada para que ele não se canse muito.
Eu fico na escola tempo integral de aula, mas longe de sua vista. Só o vejo na hora do recreio e da sopa, não se mistura com as outras crianças, tem medo de se machucar.
Mas já fez vários amigos e eu fico feliz com isso. Ele precisa ser criança, o sofrimento amadurece-o muito cedo.
Tem um coleguinha que vem aqui em casa, nós o adoramos, é o Cesinha.
Agora está se adaptando, não escrevia nada na sala de aula, trazia os trabalhos todos para casa. Os dois últimos dias até a tarefa ele fez na sala de aula.
Posso estar enganada, mas dessa vez vai ser diferente. Ele vai permanecer e continuar aprendendo.
Dificuldades, existem algumas:
• O prédio não é adaptado para cadeirante.
• Não existe um professor de apoio para atender melhor essas crianças.
• É necessário um vestuário adaptado, onde possa trocar fraldas ou até mesmo tomar banho
• Sala de recursos
• Material pedagógico adaptado
• Curso de capacitação para funcionários
Para inclusão acontecer basta realização e aceitação.
Perto do que muita mãe passa, me sinto tão abençoada por Deus.
Tenho que agradecer a Deus e pedir pra que faça o que for melhor para meu filho e para todos que me ajudam a cuidar dele.

Fabiana Lopes de Olvieira Cardoso
Delfinópolis, 01 de março de 2010
 
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